Dr. José Carlos Truzzi

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Uso da Toxina Botulínica (Botox®) no tratamento da Síndrome da Bexiga Hiperativa

Prof. Dr. José Carlos Truzzi

De acordo com a Sociedade Internacional de Continência bexiga hiperativa (do inglês overactive bladder – OAB) corresponde a uma síndrome baseada em sintomas, na qual há urgência miccional, com ou sem incontinência urinária, aumento do número de micções e nictúria.

Podemos classificar a bexiga hiperativa (BH) de acordo com sua etiologia, em neurogênica e não neurogênica, também designada por muitos como Idiopática.

São exemplos da bexiga hiperativa neurogênica aqueles casos observados em vítimas dede acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, traumatismos raquimedulares. Entre os não neurogênicos, portadores de hiperplasia da próstata e de grandes prolapsos genitais podem cursar com BH, embora uma boa parcela dos casos não tenha sua etiologia definida, ou seja, idiopática.

A prevalência da bexiga hiperativa varia de 12 a 22 por cento de acordo com levantamentos realizados em vários países da Europa e Estados Unidos. No Brasil, este número está na casa dos 19 por cento. A bexiga hiperativa pode ocorrer em qualquer idade, embora seja mais freqüente em faixas etárias mais altas. Acomete tanto homens como mulheres, com distribuição semelhante entre ambos os sexos.A forma com incontinência urinária é mais frequente em mulheres.

A maioria dos autores aceita que o tratamento deva ser iniciado com medidas conservadoras de terapia comportamental e de reabilitação do assoalho pélvico, associado ou não, ao uso de medicamentos anticolinérgicos. Entretanto a falta de uma resposta plenamente efetiva ao uso desta classe de medicamentos, associada aos elevados índices de efeitos colaterais adversos, faz com que apenas um número inferior a vinte por cento dos pacientes mantenha seu uso após seis meses de tratamento, de acordo com dados recentemente publicados.

Nos casos de falha com estas medidas primárias, a opção até a poucos anos era restrita a ampliação vesical, procedimento cirúrgico de alta complexidade e com elevada morbidade e à neuromodulação, de uso restrito devido ao elevado custo. Esse distanciamento entre as medidas primárias e secundárias abriu campo para o desenvolvimento de novas alternativas de tratamento, entre as quais a injeção intra-vesical de Toxina botulínica.

Em 2005, foram apresentados os resultados obtidos em um estudo amplo com elevado nível de evidência científica. Resultados favoráveis ao uso da Toxina botulínica evidenciaram-se no aumento da capacidade vesical, redução da pressão detrusora máxima, o que tem implicação direta na proteção do trato urinário superior (rins) e na continência urinária. A duração do efeito é de aproximadamente seis a nove meses, sendo necessária nova aplicação após esse período.

A administração da Toxina botulínica na bexiga é realizada através de um cistoscópio (tipo de endoscópio para via urinária), sob anestesia local, raquidiana ou sedação. O procedimento é realizado em caráter ambulatorial ou de Hospital Dia, sendo que o paciente tem condições de alta após aproximadamente duas horas.

Os efeitos adversos com a aplicação da Toxina botulínica na bexiga são raros e de pequena magnitude. É fundamental ser ressaltado que por se tratar de um produto biológico, não há equivalência de dose entre as várias toxinas botulínicas.

São contra-indicações ao uso da Toxina botulínica na bexiga: a presença de infecção urinária e alergia à toxina. Contra-indicações relativas são a presença de neuropatias como a Miastenia Gravis, uso de aminoglicosídeos, gestação e obstrução infra-vesical.

Podemos concluir que o tratamento da bexiga hiperativa com Botox® intravesical é seguro, altamente eficaz e apresenta raros e transitórios efeitos adversos.